"Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tivesse amor... eu nada seria."
A 5 anos em busca da recuperação de um dependente quimico
A 5 ANOS EM BUSCA DA RECUPERAÇÃO DE UM DEPENDENTE QUIMICO
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
A ultima chance
Novamente volto a publicar em meu blog.
Houve momentos em que eu nem tinha mais o que expressar por aqui.
As lutas parecem ser tao grandes, que as vezes parecemos que vamos morrer.
A um ano atras exatamente, me mudei para Curitiba.
Mais uma vez me iludi achando que estava tudo bem e que mudando de cidade as coisas começariam a andar.
Mais não é por ai que as coisas funcionam.
Na verdade eu já deveria ter aprendido quando me mudei para Brotas.
Mais essas coisas infelizmente são com o tempo que agente vai aprendendo.
Eu quando cheguei em Nar Anon, percebi que as coisas não funcionavam como magica, e sim eram com passos de formiguinha.
Foi assim que me identifiquei, passos de formiguinha...
As coisas pareciam acontecer tao lentamente, e a medida em que o tempo passava eu percebia o quanto eu tinha que mudar muita coisa em mim primeiro.
O meu esgotamento físico foi chegando cada vez mais, e a codependencia já passava a se misturar com minha bipolaridade.
Minhas medicações já pareciam não fazer mais efeito, afinal eu também era doente.
Com o tempo fui ficando muito agressiva, e alem de passar a agredi lo eu também comecei me auto agredir.
A situação já se tornava insuportável.
Me lembro que quando mudamos para cá, as coisas até estavam funcionando um pouco.
Ele estava passando um pano no N.A, e o padrinho dele estava fazendo de tudo para ele permanecer.
O que nos faz errar muito é criar expectativas, e acabei errando por ai.
Percebi que não adianta a pessoa só ir a sala e partilhar, ele tinha que se render, ele tinha que se entregar, ele tinha que aceitar realmente que era impotente perante a sua adicção.
Mais a medida em que o tempo ia passando isso não parecia estar acontecendo.
Quando nos mudamos para Curitiba estávamos frequentando uma igreja, afim de entregar nossas vidas aos cuidados de nosso PS.
Mais como não consegui distinguir que voltar ao passado faria mal?
Se conheço muito bem alguns lemas:
"Evitar pessoas e lugares."
Alias eu não tinha que distinguir nada e sim ele.
Mais como temos mania de parar nossas vidas e viver para eles me deixei ser manipulada.
Então viemos.
De inicio passando pano ainda na igreja e também no N.A, eu achava que as coisas estavam tudo bem.
Um dia ele chegou do trabalho recaído de maconha.
Me assustei muito, pois a muito tempo não o via com os olhos tão daquele jeito...olhos de morte!
Eu arrumada o esperando para ir a igreja, e ele me chega daquele jeito.
Conclusão não fui.
Atitude erradíssima, deveria ter ido.
Mais não fui, e tem mais, naquele dia o restante da fé que ainda restava em mim parece que teve um final.
Me afastei da igreja, e me afastei para bem longe, pois já não acreditava mais que Deus pudesse fazer um milagre.
Com o tempo passando as coisas foram piorando.
A doença cada vez mais cegando ele, e ele cada vez me ouvindo menos.
Começou aos poucos se envolver com amiguinhos do uso, começou a vender maconha, e usando muito.
Eu que nem louca tentando abrir os olhos dele, mais era impossível, ele não me ouvia mais.
Então foi se entregando, fumando o baseadinho que acalma e tal...
Quando pá...crack.
Ja era o esperado né, pois uma coisa leva a outra.
Em maio desse ano ele se entregou muito, e eu não resisti me separando dele.
Mais estando sozinho e sem compromisso com as coisas do lar, ele se afundava cada vez mais.
Recebia pagamento fumava tudo.
Recebia vale fumava tudo.
E passou a trabalhar somente para manter o vicio.
Eu ainda muito codependente, não aguentando vê lo naquela situação, acabei o trazendo de volta para casa, e realmente acreditando que as coisas poderiam mudar.
Em Agosto ele completou trinta anos, e prometeu que já estava na hora dele criar juízo.
Mais dois dias apos, la estava ele novamente na ativa.
Arrumou um emprego bom em uma metalúrgica.
Não estava ganhando tão mal, e seu patrão depositou toda confiança nele, pois ele é muito inteligente no que faz e muito trabalhador.
Mais quatro meses após entrar na empresa a doença ja o dominava completamente.
Bom nos últimos dias ele se entregou definitivamente ao uso, abandonou emprego, casa, e a mim.
E finalmente dessa vez não fiz como antes, que ia buscar na biqueira, trazia pra casa, tentava chamar pra realidade, brigava, xingava, batia e tudo mais.
Não eu não fiz nada disso, apenas o deixei escolher seu caminho.
Afinal minha felicidade se baseava em quanta dor eu não estava mais disposta a sentir, não importava a escolha que ele fizesse, seria a escolha dele.
Ficou doze dias numa favela, numa casa de usuários.
Nesses doze dias ele retornou para casa todos os dias, as três da manha, as quatro, as sete...
Eu simplesmente abria a porta olhava em seus olhos e ia para meu quarto.
Apenas não permiti que ele dormisse mais comigo na cama, pois não sabia qual risco eu estaria correndo.
Ao final dos doze dias ele já não conseguia mais ficar um minuto se quer dentro de casa e sem usar.
Então o que ele não costumava fazer ele começou a fazer, retirar as coisas de dentro de casa.
Primeiramente ele consumiu com todas as coisas que pertencia a ele, roupas, celular...(o décimo segundo).
Depois retirou algumas coisas de dentro de casa que eu nem vi, como liquidificador, espremedor de frutas, notebook.
Mais o que me intrigou mais em tudo isso foi ele ter empenhorado minha cachorrinha pincher.
Sim minha pincher que eu havia acabado de ganhar.
Ele estava no quintal com ela, era por volta de umas onze da manha, quando derrepente ele sumiu.
Passei a tarde toda preocupada com a cachorra sem comer e tomar água.
Quando foi a uma da manha ele retornou pra casa, bateu na porta, me levantei como de costume e abri.
Olhei para suas mãos e não vi minha cachorra.
Então perguntei, e ele me respondeu eu a empenhorei.
Apenas o olhei nos olhos e disse você não é humano.
Fui para meu quarto e chorei quase a noite toda.
Alguns dias antes ele ja havia me pedido ajuda para se internar, e nos estávamos aguardando a central de vagas liberar, pois eu não tinha como pagar.
Fui reclamar ao meu sogro que me mandou ficar em paz pois o plano funeral estava em dia.
As coisas pareciam piorar cada vez mais.
Mais eu tinha que deixar ele chegar no fundo do poço.
No dia seguinte da penhora da cachorra saiu a vaga dele.
Eu graças a Deus consegui um outro filhote para que a mulher me devolvesse a minha cachorra, e consegui a recuperar.
Internei ele no dia onze de Novembro, e hoje a exatamente vinte dias ele esta internado.
Hoje aos vinte dias de internação, nem parece mais o mesmo.
Limite...sinto que o meu chegou.
Hoje me encontro morando sozinha, como, durmo, saio, vou a igreja, e nunca tive tanta paz nos últimos cinco anos como estou tendo agora.
Vale apena continuar?
Essa é uma resposta que só eu mesma posso encontrar.
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